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“Crazy for God”: Francis Schaeffer segundo Franky Schaeffer

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Por Rodolfo Amorim e Guilherme de Carvalho

O livro Crazy for God, de Frank Schaeffer (2007, Carrol & Graf), causou sensação entre admiradores e críticos do apologista Francis Schaeffer, fundador de L’Abri e pai do autor; mas acima de tudo, entre as pessoas preocupadas com a relação entre política e religião na América do Norte. Produziu também certa curiosidade no Brasil, mas ficou sem tradução (talvez porque a discussão não fizesse muito sentido nessas terras).

Muito embora o frisson já tenha passado, ainda consideramos relevante comentar a obra, mormente porque diz respeito, indiretamente, ao nosso trabalho em L’Abri. O que se segue é uma apresentação do livro preparada pelo Rodolfo Amorim, obreiro de L’Abri Brasil, com uma avaliação final feita junto com Guilherme de Carvalho, também de L’Abri.

A perspectiva do texto, naturalmente, é a de alguém que não conhece de primeira mão os fatos que circundavam a vida dos Schaeffer no contexto do ministério L’Abri – ainda que o contato com os veteranos de L’Abri seja constante. Outras críticas mais bem informadas do livro já têm sido escritas, como o artigo de Os Guinness e de outros obreiros de L’Abri pelo mundo. Publicações mais recentes e muito relevantes são a excelente biografia de Schaeffer, por Colin Duriez, “Francis Schaeffer: an Authentic Life” (2008, Crossway), e a coletânea de estudos editada pelo Dr. Bruce A. Little, diretor do Center for Faith and Action: “Francis Schaeffer: a Mind and Heart for God” (2010, P&R).

O livro de Frank deveria, supostamente, ser uma autobiografia focalizando seu envolvimento com o meio evangélico e culminando em seu papel como um dos propulsores do movimento político da direita evangélica republicana americana, que ele associa com a polarização da política nacional e a ascensão ao poder de líderes como Reagan e a família Bush. O que conduzira a nação à adesão de políticas belicosas e moralistas que estariam prejudicando o país interna e externamente. Porém os desacertos da família e da comunidade evangélica se tornam o centro de um quase jornalismo de denúncia sensacionalista.

Para facilitar a compreensão do conteúdo do livro, dividirei os temas centrais abordados por Frank como a vida em família, sua vida no contexto do ministério de L’Abri, seu envolvimento com o evangelicalismo norte-americano, e os eventos pessoais de sua vida.

 

Vida na Família Schaeffer

A perspectiva de Frank sobre sua família é marcada pela ambivalência, uma mistura de amor e ódio, respeito e desonra. Segundo ele, Edith sempre foi o motor da família e do ministério L’Abri, iniciado na Suíça na década de 50. Edith, criada na China e filha de pais missionários, tivera uma educação privilegiada e desfrutou de condições nobres de vida em sua infância, sempre cercada de cuidados especiais e em contato com os movimentos culturais do ocidente, principalmente na música e as artes visuais. Francis, por sua vez, é descrito como um filho da classe média baixa americana, bruto em seus modos e convertido em uma tenda de reavivamento quando tinha 19 anos. Frank começa suas revelações em tom quase de tablóide sensacionalista apontando como posteriormente seu pai associou sua conversão a uma experiência de contato direto com as Escrituras enquanto buscava, filosoficamente, sentido para a existência e respostas para os dilemas da vida.

Este tom de revelação irônica das fraquezas dos pais permeia todo o livro de Frank e inclui acusações como abusos de violência de seu pai em relação à sua mãe; momentos em que sua mãe supostamente teria se envolvido emocionalmente com visitantes de L’Abri, gerando uma série de conflitos na família e sua dependência de antidepressivos; as depressões e desejos intensos de suicídio do pai, a suposta hipocrisia relacionada ao desejo dos Schaeffers em depender de Deus para a provisão do sustento no ministério, dentre outras. No entanto, em muitos outros momentos, Frank louva a autenticidade dos pais e sinceridade em conduzir o ministério que criam ter por parte de Deus. Ele exalta a humildade e acessibilidade dos pais ao tratar todas as pessoas com igual cuidado, ao receber pessoas de todos os contextos e nas mais diversas situações com o mesmo amor incondicional, e de comunicar com a geração hippie e com a cultura ocidental como nenhum outro cristão antes ou após eles.

A relação de Frank com sua família é claramente marcada pela revolta e pela gratidão. Sua revolta se expressa, sobretudo, em seu abandono quando de sua infância e juventude, quando o ministério dos pais se tornava mundialmente conhecido e demandava quase todo seu tempo. Obreiros de L’Abri ou até mesmo estudantes eram a companhia e influência constante de Frank, e com quem aprendia as coisas da vida. Em momentos do livro ele afirma que se houvera morrido em meio ao alvoroço de L’Abri, seriam necessárias algumas semanas para seus pais darem falta de sua pessoa. Esta ausência paterna está claramente evidenciada no livro, e serve como base para suas denúncias e exposição dos erros dos pais, os quais foram, segundo Frank, tornados em verdadeiros santos por todo o movimento evangélico internacional.

Entre as denúncias gerais de Frank em relação à família estão o forte pietismo e misticismo dos pais e o fundamentalismo nos primeiros anos de sua infância e adolescência. Também acusa o zelo pela pureza doutrinária dos cunhados e algumas irmãs (tinha três) que gerava sérios debates e rupturas no seio da família, e certa discriminação entre cristãos e cristãos no meio evangélico.

 

Vida no L’Abri

Quanto a L’Abri, Frank também apresenta uma relação ambígua e confusa. Em alguns momentos do livro ele declara que sua família sobreviveu apenas porque vivia no ambiente de uma comunidade que o acolheu e deu suporte nos momentos de crise e conflito. Frank declara que permaneceu casado e assumiu sua filha, fruto de uma gravidez não planejada, anterior ao casamento, em virtude do cuidado e aceitação das pessoas que pertenciam a L’Abri enquanto ali vivia.

Em outros momentos, Frank aponta a confusão e tensão de se viver entre pessoas de todas as partes do mundo, de todos os contextos, desde líderes evangélicos americanos, como Billy Graham, a hippies e solteiras grávidas usuários de drogas que vinham em busca de um refúgio para sua bagunçada existência.

Frank aponta nos primeiros capítulos do livro que sua família evoluiu em seus conceitos entre o início do ministério, na década de 50, e sua expansão na década de 60 e 70. Em sua origem, L’Abri era influenciado pela mentalidade evangélica norte americana tradicional, com todos os seus tabus como não poder beber, fumar, dançar, assistir a filmes, etc. Com os anos de experiência no L’Abri Frank percebeu que na década de 60 seu pai ficava totalmente à vontade em meio aos hippies e todos os tipos de pessoas que chegavam de todas as partes em L’Abri. Além de se comunicar facilmente com os “seekers” de sua geração, Francis e Edith reconheciam a autenticidade da crítica destes à plasticidade e vazio da vida burguesa do típico cristão norte-americano.

Segundo Frank, muitas pessoas tiveram suas vidas transformadas para melhor ao passar por L’Abri, muitas delas estendendo sua estadia por meses e até mesmo anos. Em sua opinião, o envolvimento de seu pai com o movimento político “pró vida” do evangelicalismo americano desvirtuou o ministério de seu pai, e Frank assume a responsabilidade sobre este feito, sendo influenciado para tal pelo então líder da Gospel Films, uma entidade que utilizou Schaeffer como o guru evangélico na mobilização política evangelical posteriormente assumida por nomes como o Dr. Dobson, Pat Robertson, Jerry Fallwel e Gary North, entre outros.

A luta pela pureza doutrinária e inerrância bíblica foram, segundo Frank, e os elementos principais que trouxeram divisões no trabalho de L’Abri e na própria família Schaeffer.

 

Vida no Meio Evangélico

Permeando todo o livro de Frank está sua decepção com o estilo de vida proposto pelo evangelicalismo em geral, e o norte-americano em particular. Após viver no contexto de L’Abri e compartilhar de muitos de seus princípios e de sua família, como a abertura ao diferente, a demonstração prática de amor e a consciência da força da cultura e a necessidade de diálogo crítico e construtivo, Frank relata sua transição para o mainstream da cultura evangelical norte americana.

Em seguida a algumas experiências amadoras de filmagem no contexto da família e ministério, Frank recebeu a proposta de Billy Zeolli, um diretor da Gospel Films, dos EUA, de dirigir uma série de documentários ao lado de seu pai. A proposta de Billy, que obteve uma relutante aceitação de Francis Schaeffer, era de levar a crítica cultural cristã desenvolvida por Francis Schaeffer para o centro da discussão sobre relação entre Cristão e a cultura nos EUA, que estaria sendo assolada pelo secularismo e conseqüente afrouxamento moral e pobreza estética. Após ser convidado por Billy a dirigir o documentário, Frank convenceu seu pai a incluir nos dois últimos capítulos da série uma denúncia e convocação aos cristãos norte-americanos a se posicionar frente às recentes legislações aprovando a escolha individual na decisão sobre o aborto (e como qualquer um pode constatar, os dois últimos capítulos tem uma relação nitidamente artificial com o restante do trabalho).

Segundo Frank, seu sucesso em convencer o Pai lançou o fundamento do que viria a se tornar o envolvimento político evangélico nos EUA e as origens do que seria denominada a direita evangélica republicana dos EUA. Este episódio, ocorrido em meio à dinâmica produção e apresentação do documentário “How should we than live?” foi também o início de todo o seu processo de decepção com o evangelicalismo. Lideranças com sede de poder, dinheiro e controle sobre os processos políticos que viriam a surgir são apresentados detalhadamente por Frank, demonstrando a profunda hipocrisia, superficialidade e feiúra de grande parte da liderança evangélica dos EUA.

Após se ganhar notoriedade como uma das lideranças do movimento, dirigir outros documentários como “Whatever Happened to the Human Race?” e escrever e editar vários livros, como “Time for Anger”, Frank relata seu processo de conscientização sobre a alienação e hipocrisia de todo o movimento que ajudou a levantar. Francis Schaeffer, antes mesmo de Frank, e já no início do câncer, se afastou do processo político, e se concentrou na defesa de pontos teológicos e da inerrância bíblica, o que também é denunciado por Frank como um afastamento de todas as ênfases da fase “dourada” que via seu pai viver em L’Abri por toda a década de 60 e meados de 70.

Após relatar seu afastamento e imediato ostracismo em relação à direita religiosa e o evangelicalismo americano, Frank relata sua conversão casual à ortodoxia cristã, valorizando aspectos da tradição e imaginação em contraste com a sede de poder e superficialidade do evengelicalismo que ele mesmo havia vivido e defendido.

 

A vida pessoal

O relato de sua própria vida, contextos imediatos e reflexões subjetivas sobre os eventos de sua memória formam o eixo central do livro. Todos os eventos rememorados são narrados do ponto de vista de uma experiência pós-evangélica de piedade e cristianismo. Todas as experiências típicas da piedade e prática evangelical, particularmente as de sua família, são narradas por Frank com um ar de alienação, estreiteza de percepção e engano. Práticas como oração por sustento, pregação do evangelho, vida de santidade, como abstinência sexual fora do matrimônio, o esforço por uma doutrina pura, etc. são ironizados por Frank e colocados em contraste com sua atitude supostamente iluminada e honesta em relação à complexidade e ambigüidades da vida.

Começando por sua infância no contexto de uma missão cristã, passando por suas descobertas sexuais e de outros delitos morais como uso de drogas, a busca de aventuras, etc. Frank relata sua constante distância em relação a tudo a sua volta, sua experiência de casamento com Genie após uma gravidez indesejada e o incentivo de sua família para assumir o relacionamento, e a expansão de sua família com a chegada de mais filhos. Ao final do livro, relata sua mudança para os EUA, ruptura com o passado evangélico e a experiência recente de autor de romances, quase todos parafraseando suas intensas experiências na juventude no contexto de uma família e comunidade moralista e superficial.

 

A Contribuição de Frank

O trabalho de Frank é muito útil para a autocrítica urgente do movimento evangélico, inclusive para o nosso contexto particular que é o Brasil. Entre os pontos positivos do livro se destaca a sua denúncia do modo desarticulado e precipitado de envolvimento político da comunidade evangélica norte-americana, sua acusação de práticas excessivamente legalistas de sua família no início de seu ministério na Europa, a afirmação de práticas peculiares dos Schaeffers em relação à comunicação da mensagem do evangelho à geração dos 60 e 70, e a honestidade em assumir a responsabilidade por muitos dos problemas causados na sociedade e em sua própria família, além de faltas pessoais, apesar do tom de confissão sensacionalista de seus deslizes pessoais.

Segundo as impressões de obreiros de L’Abri que foram próximos, tanto de Francis como do seu filho Frank, aparentemente foi o sentimento de culpa pela ausência paterna que levou Schaeffer a ceder aos apelos de seu filho em um caminho que não refletia as realidades de L’Abri. Os Guinness chega a dizer que “a influência nefasta de Frank sobre o seu pai é um exemplo paradigmático de como ministérios Cristãos podem ser arruinados pelo enfraquecimento de seus próprios princípios – no caso, através do nepotismo e da política familiar”. Poucos anos depois da morte de Schaeffer a sensação entre muitos obreiros era de que essa superexposição de L’Abri, associada à direita cristã americana não refletiu adequadamente o ethos da comunidade e teria sido um dos grandes erros de Schaeffer. Quanto a isso, Frank teve a honestidade de reconhecer sua responsabilidade em todo o episódio.

Nada disso significa, naturalmente, que uma resposta teológica ou política adequada seja alinhar-se ideologicamente como Frank se alinhou. O erro de Schaeffer não foi meramente o de alinhar-se à direita, mas o de se deixar manipular por aquela direita, com sua agenda estreita, pragmática e pouco cruciforme. E ninguém está livre de ser engolido por agendas pragmáticas e anticristãs, seja à direita, seja à esquerda. Se há uma lição para aprender aqui, é esta: não venda a sua missão a uma agenda secular.

E há ainda espaço para a dúvida: Os Guinness, que foi um dos melhores amigos de Frank Schaeffer na juventude, e cuja obra é muito mais criativa e interessante na atualidade, nega veementemente que o quadro pintado por Frank seja realista. Segundo ele, o livro não está apenas eivado de crueldade e ingratidão, mas falta com a verdade; no tocante, por exemplo, à qualidade da atenção dada por sua mãe, Edith Schaeffer, ou a seu retrato “ignorante” das realidades do cristianismo evangélico americano – campo no qual a contribuição de Os Guinness é amplamente reconhecida. Mas o pior de tudo, o que Guinness considerou “anátema”, foi a sugestão de que Schaeffer houvesse sido qualquer coisa próxima de um “enlouquecido por Deus”. Sua paixão pela verdade e pela consistência foi testemunhada por ele e por outros veteranos de L’Abri que moraram com a família por anos a fio; e se alguém realmente ficou “enlouquecido pela religião”, foi o próprio Frank.  Para os que podem ler em inglês, vale a pena ler a resposta de Os Guinness: o artigo “Fathers and Sons”.

 

Um Satélite

Em termos globais, o livro Crazy for God pode ser visto como uma crítica ao estilo de vida evangélico, já que Frank assume ao final como deixou a religião dos pais e se entregou a uma espécie de espiritualidade ortodoxa em que percebe Deus nos fatos da vida, nos erros e acertos, sem qualquer tipo de ‘dogmatismo’ ou ‘práticas pietistas’.

O excesso de denúncias de faltas de pessoas próximas, sobretudo dos pais, desloca o eixo do livro de uma autobiografia ao estilo mais próximo a um jornalismo sensacionalista. E isto fortalece, em relação a Frank Schaeffer, o estigma de sempre gravitar em sua obra pessoal – ele publicou uma trilogia de sucesso onde romanceia sua aventura de criança e jovem emancipado em meio aos ideais religiosos dos pais – na esteira da ainda celebrada imagem de seus pais agradando, sobretudo, àqueles que rejeitam a proposta evangélica de vida.

Em uma obra mais recente, “Sex, Mom, and God: How the Bible’s Strange Take on Sex Led to Crazy Politics–and How I Learned to Love Women (and Jesus) Anyway”, publicada pela Da Capo Press em 2011, Frank continua na mesma direção literária de “Crazy For God”, revelando em pormenores as tensões de uma vida localizada entre dois mundos de apelos distintos, o evangelicalismo dos pais, e as buscas e aventuras pessoais de Frank em sua quebra insistente dos tabus até então estabelecidos. Mas agora o foco é lançado sobre as ambigüidades de suas experiências sexuais e sua admiração pela força dos pais de manterem, mesmo em meio às tensões do dia a dia de intenso ministério e os vales sentimentais, intactos os vínculos familiares mais preciosos a Frank, principalmente na figura de sua mãe, Edith Schaeffer. Para muitos, o tom de admiração e respeito em relação aos pais é mais moderado em “Sex, Mom and God”, ainda que o título e a temática pareçam mais controversos, à primeira vista.

Aqui vale uma impressão mais anedótica. No livro Franky descreveu a si mesmo como um “cabeça-quente destemperado”, mas não parece ter mudado muito ao longo de sua vida; desde cedo se percebeu, inclusive por workers de L’Abri que cuidaram dele na infância, que ele sempre com raiva de alguma coisa. No seu momento “evangélico”, atacou duramente o secularismo (“A Time for Anger”); depois atacou a mediocridade evangélica por dentro; depois a partir de fora; rompeu com quase todos os amigos dos tempos de L’Abri; e um de seus últimos movimentos foi o conflito e abandono do Cristianismo Ortodoxo Oriental, cuja espiritualidade ele vira como solução.

 

Mais Satélites?

Mas até a pior característica de Frank pode ter sua importância, embora por um viés bastante trágico. É que, como Frank em suas fases, muitos críticos da “ortodoxia reformada”, tristemente, não são movidos pelo amor ou pela descoberta de uma ideia ou pratica verdadeiramente bela, apaixonante e criadora; tudo o que sabem é no que não querem acreditar. Mas isso não os torna muito diferentes de almas penadas, vagando como satélites em torno de seus captores. Falta-lhes a percepção de que ainda são verdadeiramente definidos, embora negativamente, pelas “ortodoxias mortas” que querem combater. Esse não é um bom modo de existir; a fealdade pode desviar nossos olhos da beleza por um instante, mas só uma beleza maior deveria fazê-lo para sempre.

Nesse sentido é trágico encontrar crentes cansados da fé evangélica, no Brasil, tomando Frank Schaeffer como referência, por sua crítica ao evangelicismo tradicional. Sem saber, aliam-se não apenas a um dos mentores confessos da direita cristã americana (mais do que o próprio Schaeffer), mas a uma personalidade nada dialógica. De que adianta livrar-se do “fundamentalismo doutrinal” e substituí-lo por um espírito amargo?

Mas não são apenas os “crentes cínicos” que precisam recalcular suas órbitas. Um desiludido como Frank já foi um fundamentalista ressentido. O próprio Schaeffer foi um desses, antes da crise espiritual que o levou a fundar o L’Abri e a escrever “A Verdadeira Espiritualidade”. Os fundamentalistas e conservadores ressentidos deveriam reconsiderar sua posição e voltar atrás, se não pelo exemplo de Francis, ao menos pela trajetória de Frank. Pois o esgotamento espiritual e o cinismo são o futuro de cada fundamentalista enraivecido, assim como a fixação fundamentalista é o passado de cada cínico amargurado.

 

Schaeffer, e Além…

Uma das razões porque L’Abri sobreviveu a Schaeffer é que, percebendo o erro de definir-se pelo ressentimento que marca uma parte significativa da direita religiosa americana (não toda ela, diga-se), preferiu retornar a seu ethos original, caracterizado pela hospitalidade e diálogo, sem prejuízo da verdade e da confissão da fé. A decisão de se afastar da rota de Franky e se aproximar do caminho de Francis foi crucial para essa sobrevivência. A ênfase de Schaeffer no “falar a verdade em amor” continua sendo o coração de L’Abri.

Enfim, ir além de Schaeffer não significa, apenas, aprender com seus erros; e com certeza não significa desaprender as boas lições que ele deixou. Em termos de teologia, espiritualidade cristã e diálogo cultural, há tanto que Schaeffer apenas rascunhou! Seus admiradores não deveriam permanecer paralisados, nem diante de seus erros, nem diante de seus acertos. Convém que Schaeffer diminua, para que Cristo cresça. E isso vale para todos nós.

SAIBA MAIS SOBRE FRANCIS SCHAEFFER AQUI

 


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